31.1.06

Oh grande Valéry...
que não lhe chegas às canelas, e mesmo assim tens campa posta no cemitério do Père Lachaise...

Fosse eu quem mandasse e o L. dall'Rio teria uma bela reforma assegurada. Se não com as Ninfas todas (que eu não sou parvo) pelo menos com algumas.
E depois, irias ao Paço receber a tença, agora das mãos do Cavaco, pois com certeza, que mais a merecias do que o velho Luís, porque tens dois sábios olhos, para as Ninfas...
E se quem tem um olho é rei, quem assim escreve e tem dois... bem!

O tal Jean dedilhava uns belos acordes brasileiros, mas em pronúncia restaurada.
"... Ah tu verras tu verras,
... tout recommencera, tu verras tu verras,
... l'amour c'est fait pour ça, tu verras tu verras,
... Je ferais plus le con, j'apprendrai ma leçon,
... sur le bout de tes doigts, tu verras tu verras..."

O tal Jean era hífen Luc Prigeant (raio de nome. Não ser ele José como os valorosos...)

Ah, se vires um tal Costa, mas de frente, que temos de lhe dizer na cara umas verdades, manda-mo por mail, para ser mais rápido...
Pede aí ao músico mais uma rodada com tremoços.
Esta é por minha conta

29.1.06

Les copains d'abord

Ses fluctuat nec mergitur
C'était pas d'la littérature
N'en déplaise aux jeteurs de sort
Aux jeteurs de sort
Son capitaine et ses mat’lots
N'étaient pas des enfants d'salauds
Mais des amis franco de port
Des copains d'abord

Tal como o Zé de Penafiel penso que não deveremos vir a este café só para recordar. Mas, quando evoco, admito que nostalgicamente, esses tempos de menino e moço, para mim de graças muitas, comungo com o Millor Fernandes: “Quem mata o tempo (passado) não é assassino mas sim um suicida”.

Vai daí que sentado à mesa do café, Super Bock fresca, ouço o Mário de Sá-Carneiro:

Sobre ela descanso os braços
Numa atitude alheada,
Buscando pelo ar os traços
Da minha vida passada.

E esses traços vivos são os amigos, as situações, as emoções dum tempo ditoso que o Café Tróia testemunhou.
É com esse espírito de copains d’abord (quem não se recorda do prof. Jean Luc quelque chose a agredir violenta e entusiasticamente o Brassens com a viola) que vejo o Fernando sentar-se, sorriso aberto, humor tranquilo, sensato, sabendo o que quer da vida, pedindo um pingo (de cevada que não café). Fernando, amigo, companheiro, a quem devo, talvez, ter concluído o curso por despejares alguns baldes metafóricos de água fria sobre os entusiasmos juvenis que me poderiam ter desviado do caminho recto (aprecio muito este tipo de fraseologia “… desviado do caminho recto”). Ouço-te e vejo-te ainda, após umas cervejolas, horas mortas, na mansarda de Leça, tomado de súbito e irreprimível impulso, declarar solenemente que ias arengar às massas. Vejo-te já na varanda, à Evita Péron, (salvo seja), tonitruante: “- Massas! Maaaassas! Alimentícias e não-alimentíciaaaas…”. E um grande silêncio fez-se… Recolhes-te para o interior, pões-te a monte numa brasa do caraças… A turba, as massas, afinal havia um, um massa, o Conde Niño, do rés-do-chão, olhar atónito, expectante… Tchhhh, Heiiiiii… Tu branco como o cal. Logo tu num preparo desses, o único que se dava ao respeito pela vizinhança… E logo com o Conde Niño, presidente do condomínio, a quem tu, num gesto de simpatia e captação das boas graças, havias, pressuroso, oferecido uma garrafa de aguardente que era minha; para quem, porque sabias que o homem gostava, ao cavaquinho, tocavas, por vezes, um vira manhoso. Tu a quem as mães do prédio não enjeitariam ter como genro. Ganda bronca.
Tivemos eu e o Manel de Ponte da Barca, o outro compère do ménage à trois (leia-se sociedade arrendatária do sanctus sanctorum de Leça do Balio) finalmente uma pequena desforra, com algum sabor a vingança, admito. Afinal o menino bonito, ajuizado, mostrara que era igual aos dois índios que moravam com ele.
A cerveja já vai a meio.
Chega o Zé de Penafiel. Tudo em ordem?
O Zé tem uma admirável capacidade de fazer humor com tudo. As maiores banalidades, as situações anódinas do dia-a-dia servem-lhe de mote para exercitar a arte buscando subtilezas nas profundezas semânticas e fónicas das palavras. Um autêntico jongleur des mots. E como eu o invejava quando agarrava na viola e com mestria tocava o “Andas p’ra aí a partir corações” ou brincava com os blues da Miquelina! Os meus dedos de carroceiro não iam para além dum Malhão mal ajambrado… Lembro-me de uma das sessões no quarto do Xavier, ali na Rua da Boavista, sem janelas, escuro, mas que parecia o Rivoli em noite grande. O Xavier também dedilhava umas coisas, com voz TSF brindou-nos com um Veinte Años do Patxi Andion tão bom como o original, o Manolo mio, as “canhonas” mirandesas. E eu para o Zé com uma blague habitual:
- Ó velhinho. Toca aí uma pecinha dos Temptations.
E o Zé:
- Temptations?!!! À viola?! Tás parvo ou andas-te a treinar?
Ora viva o Rogério.
Sorriso permanente, ar dandy, bem apessoado, com fama e proveito, segundo rezam as crónicas e por quem o sexo fraco suspira… Senta-te amigo. Por detrás desse ar pare nós sabemos que há uma alma preocupada, tudo menos superficial, espertíssimo e amigo do amigo, solidário. E do círculo de amigos há quem o possa atestar. Rogério, um camarada a sério…
O Costa?
- A Cuesta quando venga yo le voy mandar al carajo!
- Qué pasa L., coño?
- Lo que pasa es que Cuesta tiene mis libros de la cadera de Literatura Hispano-Americana: Borges, Cortázar, Garcia Marques… Se hay quedado com ellos y jamás los he pusto los ojos arriba.
(Cadera?!!!)
- Pues, hombre, se te los hay gamado, hace lo que tienes de hacer…
O Costa. Nunca mais lhe pus a vista em cima. Volta, Costa, estás perdoado. Podes ficar com os livros. O Costa, pré-candidato ao sindicato do crime: “L., se souberes de algum gajo que queira comprar um Volkswagen 1200, de puta madre, não gasta água e quem bate é que se aleija, fala comigo, pá”.
O Costa que chegou a alugar um quarto com varanda para Santa Catarina para catrapiscar o melhor catraiame da cidade como ele dizia. Aquele abraço.
E a Olga? A quem um dia ao chegar lhe disse que parecia uma pomba-de-leque. “Oh L., queres levar um estalo?” Oh Olga, era um elogio, que diabo! Porra, pá. É logo ao chapadão?
E a Guida? Sempre elegantíssima. Não vem? A malta aqui no café era um vistaço ao pé dela. A Paula Ucha, sempre risonha, poveira de chinelo. A Ana, a Luísa, então? Apareçam por cá. E a Susaninha? Que é dela? A ela ninguém lhe fazia ninho atrás da orelha. “Qu’essa merda?” Aí Susana… É assim mesmo.
O Jorge. Eterno filósofo de sapatilhas Sanjo com devaneios existencialistas. Transmontano até ao chão. Jorge, aparece por cá, pá. Já sabes: Cícero, Plauto e essa maltosa toda da Camorra Latina, que lixam a vida ao povo, pá, connosco é pau em cima do lombo. Julgam que quê?. Não te deixes abater amigalhaço. Ainda os hás-de ver pendurados… e tu com dez a Latim. Não desesperes, pá.
E que é do Artur Pires? O que à laia de Grande Chefe Índio erguia a mão direita, palma virada para a frente e substituía o “Ugh” por “D’ac”. Este “D’ac” não é um “d’ac” qualquer. Foi com este “d’ac” que o Baradat nos apertou os calos, a todos sem excepção, num ditado para mais de cem mânfios e mânfias… Mas que raio é “D’ac”? Pois! “D’ac” seus ignaros, para não vos chamar brocos, é a forma popular abreviada de “D’accord” proferida pelo Petit Nicholas. Pois é…
Sejam bem-vindos todos, o Zé Carlos Amorim, simpatia de pessoa, o Mário Norte - que tinha uma amigo que não curtia funerais- o Augusto da Guarda e tutti quanti.
O Sousa do riso franco a quem eu desesperava por ganhar no xadrez e nunca o consegui. Ria-se por antecipação, o malandro, adivinhando as minhas jogadas, para ele mais do que óbvias, e trocava-me as voltas. Valha-me que à sueca, por vezes, lhe limpava o sebo.
Para o Sousa e o Xavier que já partiram: - Saravah, amigos! Como gostaria de ser crente para acreditar que noutra dimensão, um dia, vos poderia dar um abraço.
Bom, por hoje a cerveja, já era… A conta por favor.
Até logo.

Et, quid ad propteram, ciclostumorum?
Haverá quidam qui degustare ciclóstomo non volere (lampreia para os amigos)?
A tertúlia corre mais fácil, ad tavolem, do que sobolos rios que vão por Babilónia...
E depois, sempre poderíamos dizer, com mais propriedade: hic...hic... hic... et nunc!
Aguardo que o silêncio dos restantes bloggers se quebre.
Zé de Penafiel

26.1.06

Bah...com esta interjeição lapidar pretendo dizer que as recordações deverão ficar por aqui...O nosso "Café Flore" mantém-se. É claro que, não tão tertúlico, impante, clarividente ... Já não tem aquele empregado elegante e músico, que nos servia um café para quatro, de três em três dias!...Estava a pensar em tomar conta dele, (do café!) se algum messenas me quisesse patrocinar.[isto, como devem imaginar, serviu só para ver se eu me entendo na virtualidade do blogg! Se a mensagem cair no Irão, disparem sobre ela. Não a deixem dar frutos!)

24.1.06

Minha mesa no Café,
Quero-lhe tanto... A garrida
Toda de pedra brunida
Que linda e que fresca é!


Amigos do coq au vin e do riz au lait (perdoa, Zé, apropriar-me destas expressões que são tuas; mas como t'es innoxidable, sei que não levarás a mal) entrem e sentem-se nem que seja só por um bocadinho.
Este é um espaço de memórias, por onde, um dia, verdes anos, entrámos "insouciants" e abraçámos a vida, os amores, confessados uns, outros não, erguemos taças à amizade, dizia eu.

Sim, o Tróia foi, é - na memória - tudo isso.

Por isso entrem, nem que seja só para ver quem está... se não quiserem falar não falem... mas venham... peça o cimbalino da ordem...

Venham, vamos falar do Fernando, do Zé, do Rogério e do João e outros mais também virão... Talvez a Lewinski, o Jacob e o Labão (desculpem lá, mas estava com o ritmo na cabeça: "Vamos falar de animais e de como eles são, do periquito, do gato e do cão e outros mais também virão, talvez o macaco, a girafa e o leão ", etc. etc. - Lembram-se? Não?!!! -José Barata Moura).

Este novo Tróia virtual não será um repositório de recordações, embora o possa ser também, mas uma mesa de troca de impressões, de desabafos e, quem sabe, até uma forma de meter alguma paz em antigos desaventos. Quem sabe? Soltem poemas, mostrem os vossos filhos, chateiem com as vossos problemas existenciais, profissionais e quejandos... Não se pirem é sem pagar.

Vão passando palavra ao povo dos Literaturas da FLUP nos idos da passagem dos seventies para os eighties (por aí mais ao menos). O mais ou menos é para precaver a situação do Jorge Humberto que ainda deve andar à volta com os latinórios.

Então pronto. A conta, se faz favor.

Cá vos espero por um destes dias...

Honni soit qui mal y pense!
(Para quem tem o Francês enferrujado cá vai a tradução: Tu nem sabes naquilo que pensas!)